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sábado, 12 de maio de 2012

A reconstituição capilar em mulheres que sofreram acidentes em barcos artesanais na Amazônia

“Só senti um choque e quando me deparei já estava no chão, sem o meu cabelo. Dormi próxima ao motor, meu pé escorregou e meu cabelo enroscou no eixo. Ele media na cintura. A pele arrebentou toda e cobriu os meus olhos.” É assim que Rosinete Rodrigues Serrão, de 35 anos, se lembra do acidente que a deixou sem o couro cabeludo. Rosinete Serrão, de 35 anos, é presidente de associação que ajuda vítimas de escalpelamento. Ela perdeu o couro cabeludo aos 20 anos, em acidente de barco. Rosinete Serrão, de 35 anos, é presidente de associação que ajuda vítimas de escalpelamento. Rosinete voltava de uma festa às cinco da manhã, no município de Breves, interior do Pará, quando cochilou dentro da embarcação cheia de água. Ela tinha 20 anos. “A dor é tão grande que acaba adormecendo tudo. Eu sentia dor na perna, nas costas e não podia ver nada porque perdi as sobrancelhas e a pele cobriu os meus olhos”, conta. Mesmo com a cirurgia de remoção de pele, Rosinete ficou anos isolada e com vergonha do espelho. Só voltou a ter vida social quando conheceu outras mulheres na mesma situação. Juntas, elas fazem parte da Associação de Mulheres Ribeirinhas e Vítimas de Escalpelamento da Amazônia (AMRVEA), entidade localizada em Macapá, da qual Rosinete é a atual presidente. A associação tem 117 integrantes – 110 mulheres e sete homens. No Brasil, a perda parcial ou total do couro cabeludo, conhecida como escalpelamento, é mais comum na região amazônica, onde os moradores vivem cercados de rios e dependem de barcos artesanais para se locomover. Segundo o Ministério da Saúde, em 2011, 618 pessoas fizeram a mesma cirurgia de Rosinete no Sistema Único de Saúde (SUS). Número menor do que nos últimos três anos: 919 (2008), 878 (2009) e 797 (2010). Dentre esses casos, a imensa maioria está na região Norte. Segundo o cirurgião-plástico Luciano Chaves, vice-presidente da SBCP , os acidentes acontecem porque as embarcações não usam protetores no eixo do motor, o que já é obrigatório por lei, mas perdura pela falta de fiscalização. “Ao se abaixarem para retirar o excesso de água do barco, os cabelos e roupas se enroscam no equipamento e arrancam o couro cabeludo, principalmente de mulheres e meninas de cabelos compridos”, explica Chaves. “Quando o escalpelamento acontece na infância a sequela emocional é enorme. Fora que todos esses pacientes têm uma dor de cabeça crônica porque é uma região muito quente e o couro fica exposto. Alguns usam peruca, mas o sol agride e faz com que se desenvolva tumores na região do crânio, como uma úlcera”, alerta Chaves.

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